Publicado em 21 de maio de 2025 às 08:11
“Fiquei paraplégica por causa de um furúnculo!”. O alerta incisivo foi feito pela ex-dançarina Jéssica Avelino, de 26 anos, em uma rede social. A jovem, que conversou com a reportagem do g1ES sobre sua situação, viu a vida mudar completamente em 2023, quando ficou paraplégica após uma infecção bacteriana que teve origem em um furúnculo. >
O machucado começou no braço esquerdo e logo se transformou em furúnculo, que evoluiu para uma infecção na medula e acabou comprometendo os movimentos dos membros inferiores da jovem. Na época, ela morava em São Mateus, no Norte do Espírito Santo.>
No dia 11 de novembro de 2023, devido às fortes dores que sentia, Jéssica resolveu espremer o furúnculo que havia aparecido no braço. "Foi a primeira vez que me deu um furúnculo. Eu nunca tinha tido e não tinha conhecimento. No início, foi um machucadinho bem pequeno. Fiquei na dúvida sobre o que era, algumas pessoas falaram em picada de aranha. ado um tempo, foi piorando e as pessoas falaram que poderia ser um furúnculo", disse.>
Após espremer o furúnculo, ela disse ter ficado melhor. Inclusive, chegou a fazer atividades com o filho Pietro Avelino, que na ocasião tinha dois anos, e também chegou a ir à praia. Dias depois, dores lombares intensas começaram a aparecer. "Eu estava indo trabalhar a pé, pedalando, cuidando do meu filho… Achei que fosse cansaço, que fossem as atividades do dia a dia", contou.>
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A dor, no entanto, piorou progressivamente. Entre os dias 25 e 28 de novembro de 2023, Jéssica buscou atendimento médico diversas vezes, já que o anti-inflamatório tomado em casa não estava resolvendo, e a dor também provocou uma rigidez no pescoço, febre e vômito.>
Por causa dessa situação, a ex-dançarina foi internada com suspeita de meningite no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus. Apenas no fim do mês os médicos identificaram uma bactéria na corrente sanguínea. E após questionamentos da equipe sobre ferimentos recentes que Jéssica teria, ela lembrou do furúnculo. Uma punção na medula, então, confirmou a infecção.>
No dia 30 de novembro, Jéssica sentiu um formigamento nas pernas e, na mesma noite, foi levada para a UTI já com paralisia. "Tentei andar no quarto para ver se ava, mas minhas pernas ficaram trêmulas. Caí e não consegui mais levantar. Não sentia mais nada. [...] Quando eu acordei, o médico disse que eu podia ter uma paralisia cerebral ou até morrer. Fiquei apavorada", lembrou.>
Foram sete dias na UTI e uma série de exames. A paciente foi transferida para o Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, e os médicos fecharam o diagnóstico: mielite infecciosa — uma inflamação da medula causada por bactéria, que, no caso dela, entrou no organismo pelo furúnculo e foi parar na medula.>
Foram, então, mais 20 dias internada, ando por novo ciclo de antibióticos. Uma cirurgia, que chegou a ser cogitada, não foi necessária. A paralisia não continuou subindo pelo corpo, mas a ex-dançarina se viu paraplégica.>
Hoje, Jéssica vive em Curvelo, Minas Gerais, onde conta com os cuidados da mãe, e enfrenta uma rotina intensa de reabilitação e adaptação.>
Antes do problema de saúde, trabalhava como operadora de caixa e foi dançarina de grupos e de uma banda capixaba, chegando a viajar para se apresentar ao som, principalmente, de axé e swingueira.>
A mulher lida com dores neuropáticas e espasmos, não consegue ficar muito tempo na cadeira de rodas e precisa revezar com a cama. Ainda assim, celebra os avanços.>
"Logo quando aconteceu, eu não sentia nada. Agora, praticamente um ano e meio depois, tenho leves movimentos na perna esquerda, sinto o toque, o quente, o frio, parece que a força está querendo voltar. Também não tenho mais sensibilidade na barriga. Os médicos dizem que posso voltar a andar, porque foi uma inflamação, não teve rompimento da medula, mas não é garantido, é uma possibilidade", explicou.>
Além da fisioterapia e exercício na cidade do interior de Minas Gerais, a paciente é acompanhada por profissionais do Hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, com internações anuais. "É um atendimento gratuito, uma vez por ano fica internada de duas a três semanas, faço reabilitação, exames, aprendo exercícios, atividades do dia a dia... O objetivo é retomar a autonomia, reaprender a viver, seja na cadeira de rodas, na bengala…", contou, animada.>
Aos poucos, Jéssica retoma sua vida. A casa do pai, em São Mateus, está sendo adaptada para recebê-la novamente, até julho deste ano. A mãe também tenta vaga em creche para Pietro e sonha em voltar a trabalhar. Além disso, apesar das limitações físicas, ela segue dançando, paixão que carrega desde criança.>
Jéssica Avelino
"Se eu pudesse dar um conselho para as pessoas, seria esse: diante de qualquer tipo de machucado, procure um médico. É normal querer resolver em casa, mas eu jamais imaginaria que um furúnculo pudesse me deixar assim", falou Jessica.>
O médico e presidente da Sociedade de Dermatologia no Espírito Santo, Ricardo Tiussi, reforçou que o alerta feito por Jéssica é realmente válido. Segundo o especialista, problemas como o da jovem podem acontecer com qualquer pessoa e não apenas em casos de furúnculos.>
"Isso não é comum, é raro, mas pode acontecer. Principalmente quando as pessoas manipulam o furúnculo, que é uma infecção da própria pele em que uma bactéria penetra pela raiz do pelo. No caso da entrevistada, a bactéria foi para o sangue e foi parar na medula. Poderia ir para qualquer órgão, mas foi parar na medula", explicou.>
Segundo o médico, a orientação é não mexer em um furúnculo, não espremer, não tentar rasgar, porque em casa a pessoa não tem material estéril. "Às vezes, o paciente pega uma tesoura, um aparelho de barbear, algo que já está contaminado, e piora a situação", avaliou.>
Ainda de acordo com Tiussi, a qualquer sinal de dor, febre, a orientação é procurar um médico, um posto de saúde. O tratamento é feito com antibiótico e com drenagem, quando necessário, mas sempre em um ambulatório, em um hospital, e com um profissional que saiba fazer isso.>
Fatores de risco (quem tem mais chance de desenvolver uma complicação a partir de furúnculo:>
O médico alertou ainda para pessoas que frequentam ambientes hospitalares com frequência, como para sessões de hemodiálise. "Se o paciente uma cepa mais agressiva e resistente da Staphylococcus - que é a bactéria mais comum no furúnculo -, tem uma chance maior de acontecer uma infecção a distância, que é o que a gente chama de disseminação hematogênica", alertou.>
*Com informações de Ana Elisa Bassi, do g1ES>
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