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Ex-dançarina do ES fica paraplégica após complicação causada por furúnculo

Ex-dançarina do ES fica paraplégica após complicação causada por furúnculo

Jéssica Avelino, de 26 anos, ou por semanas de dores e incertezas antes de receber diagnóstico de mielite infecciosa; agora,  na cadeira de rodas, ela reaprende a viver ao lado do filho de 3 anos

Publicado em 21 de maio de 2025 às 08:11

Jéssica Avelino, de 26 anos, ou por semanas de dores e incertezas antes de receber diagnóstico de mielite infecciosa; agora,  na cadeira de rodas, ela reaprende a viver ao lado do filho de 3 anos.

“Fiquei paraplégica por causa de um furúnculo!”. O alerta incisivo foi feito pela ex-dançarina Jéssica Avelino, de 26 anos, em uma rede social. A jovem, que conversou com a reportagem do g1ES sobre sua situação, viu a vida mudar completamente em 2023, quando ficou paraplégica após uma infecção bacteriana que teve origem em um furúnculo.

O machucado começou no braço esquerdo e logo se transformou em furúnculo, que evoluiu para uma infecção na medula e acabou comprometendo os movimentos dos membros inferiores da jovem. Na época, ela morava em São Mateus, no Norte do Espírito Santo.

Dificuldade no diagnóstico

No dia 11 de novembro de 2023, devido às fortes dores que sentia, Jéssica resolveu espremer o furúnculo que havia aparecido no braço. "Foi a primeira vez que me deu um furúnculo. Eu nunca tinha tido e não tinha conhecimento. No início, foi um machucadinho bem pequeno. Fiquei na dúvida sobre o que era, algumas pessoas falaram em picada de aranha. ado um tempo, foi piorando e as pessoas falaram que poderia ser um furúnculo", disse.

Após espremer o furúnculo, ela disse ter ficado melhor. Inclusive, chegou a fazer atividades com o filho Pietro Avelino, que na ocasião tinha dois anos, e também chegou a ir à praia. Dias depois, dores lombares intensas começaram a aparecer. "Eu estava indo trabalhar a pé, pedalando, cuidando do meu filho… Achei que fosse cansaço, que fossem as atividades do dia a dia", contou.

Jessica Avelino, que ficou paraplégica após complicação causada por furúnculo, está na foto com o filho Pietro, de 3 anos Crédito: Reprodução Instagram | jessiica_avellino

A dor, no entanto, piorou progressivamente. Entre os dias 25 e 28 de novembro de 2023, Jéssica buscou atendimento médico diversas vezes, já que o anti-inflamatório tomado em casa não estava resolvendo, e a dor também provocou uma rigidez no pescoço, febre e vômito.

Por causa dessa situação, a ex-dançarina foi internada com suspeita de meningite no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus. Apenas no fim do mês os médicos identificaram uma bactéria na corrente sanguínea. E após questionamentos da equipe sobre ferimentos recentes que Jéssica teria, ela lembrou do furúnculo. Uma punção na medula, então, confirmou a infecção.

Paralisia nas pernas

No dia 30 de novembro, Jéssica sentiu um formigamento nas pernas e, na mesma noite, foi levada para a UTI já com paralisia. "Tentei andar no quarto para ver se ava, mas minhas pernas ficaram trêmulas. Caí e não consegui mais levantar. Não sentia mais nada. [...] Quando eu acordei, o médico disse que eu podia ter uma paralisia cerebral ou até morrer. Fiquei apavorada", lembrou.

Foram sete dias na UTI e uma série de exames. A paciente foi transferida para o Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, e os médicos fecharam o diagnóstico: mielite infecciosa — uma inflamação da medula causada por bactéria, que, no caso dela, entrou no organismo pelo furúnculo e foi parar na medula.

Jessica Avelino ficou paraplégica após complicação causada por furúnculo
Jessica Avelino ficou paraplégica após complicação causada por furúnculo Crédito: Reprodução Instagram | jessiica_avellino

Foram, então, mais 20 dias internada, ando por novo ciclo de antibióticos. Uma cirurgia, que chegou a ser cogitada, não foi necessária. A paralisia não continuou subindo pelo corpo, mas a ex-dançarina se viu paraplégica.

Recomeço e reabilitação

Hoje, Jéssica vive em Curvelo, Minas Gerais, onde conta com os cuidados da mãe, e enfrenta uma rotina intensa de reabilitação e adaptação.

Antes do problema de saúde, trabalhava como operadora de caixa e foi dançarina de grupos e de uma banda capixaba, chegando a viajar para se apresentar ao som, principalmente, de axé e swingueira.

A mulher lida com dores neuropáticas e espasmos, não consegue ficar muito tempo na cadeira de rodas e precisa revezar com a cama. Ainda assim, celebra os avanços.

"Logo quando aconteceu, eu não sentia nada. Agora, praticamente um ano e meio depois, tenho leves movimentos na perna esquerda, sinto o toque, o quente, o frio, parece que a força está querendo voltar. Também não tenho mais sensibilidade na barriga. Os médicos dizem que posso voltar a andar, porque foi uma inflamação, não teve rompimento da medula, mas não é garantido, é uma possibilidade", explicou.

Além da fisioterapia e exercício na cidade do interior de Minas Gerais, a paciente é acompanhada por profissionais do Hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, com internações anuais. "É um atendimento gratuito, uma vez por ano fica internada de duas a três semanas, faço reabilitação, exames, aprendo exercícios, atividades do dia a dia... O objetivo é retomar a autonomia, reaprender a viver, seja na cadeira de rodas, na bengala…", contou, animada.

Adaptação e esperança

Aos poucos, Jéssica retoma sua vida. A casa do pai, em São Mateus, está sendo adaptada para recebê-la novamente, até julho deste ano. A mãe também tenta vaga em creche para Pietro e sonha em voltar a trabalhar.  Além disso, apesar das limitações físicas, ela segue dançando, paixão que carrega desde criança.

A paralisia não me parou. Eu danço do meu jeito, em cima da cadeira, até já fiz uma apresentação no hospital, organizei coreografia, figurino... Eu, antigamente, tinha muito na cabeça de querer voltar a andar logo. Hoje em dia, a minha vontade é viver como se não tivesse amanhã. A gente não sabe o que está por vir. Não adianta esperar quando voltar a andar, tenho vontade de aproveitar a vida

Jéssica Avelino

Alerta

"Se eu pudesse dar um conselho para as pessoas, seria esse: diante de qualquer tipo de machucado, procure um médico. É normal querer resolver em casa, mas eu jamais imaginaria que um furúnculo pudesse me deixar assim", falou Jessica.

Jessica Avelino antes de ficar paraplégica após complicação causada por furúnculo Crédito: Reprodução Instagram | jessiica_avellino

O médico e presidente da Sociedade de Dermatologia no Espírito Santo, Ricardo Tiussi, reforçou que o alerta feito por Jéssica é realmente válido. Segundo o especialista, problemas como o da jovem podem acontecer com qualquer pessoa e não apenas em casos de furúnculos.

"Isso não é comum, é raro, mas pode acontecer. Principalmente quando as pessoas manipulam o furúnculo, que é uma infecção da própria pele em que uma bactéria penetra pela raiz do pelo. No caso da entrevistada, a bactéria foi para o sangue e foi parar na medula. Poderia ir para qualquer órgão, mas foi parar na medula", explicou.

Segundo o médico, a orientação é não mexer em um furúnculo, não espremer, não tentar rasgar, porque em casa a pessoa não tem material estéril. "Às vezes, o paciente pega uma tesoura, um aparelho de barbear, algo que já está contaminado, e piora a situação", avaliou.

Ainda de acordo com Tiussi, a qualquer sinal de dor, febre, a orientação é procurar um médico, um posto de saúde. O tratamento é feito com antibiótico e com drenagem, quando necessário, mas sempre em um ambulatório, em um hospital, e com um profissional que saiba fazer isso.

Fatores de risco (quem tem mais chance de desenvolver uma complicação a partir de furúnculo:

  • Pessoas com queda de imunidade; 
  • pacientes com doenças imunossupressoras; 
  • pacientes que tomam medicamentos imunossupressores; 
  • pacientes mais idosos; 
  • pessoas que fazem quimioterapia; 
  • que possuem diabete descompensada.

O médico alertou ainda para pessoas que frequentam ambientes hospitalares com frequência, como para sessões de hemodiálise. "Se o paciente uma cepa mais agressiva e resistente da Staphylococcus - que é a bactéria mais comum no furúnculo -, tem uma chance maior de acontecer uma infecção a distância, que é o que a gente chama de disseminação hematogênica", alertou.

*Com informações de Ana Elisa Bassi, do g1ES

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