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Serra e Vila Velha estão entre as 11 grandes cidades com menor qualidade de vida no país

Serra e Vila Velha estão entre as 11 grandes cidades com menor qualidade de vida no país

Resultado é demonstrado quando os dois municípios capixabas são comparados com outros de grande porte, excluindo as capitais, em estudo que usa dados públicos para medir o progresso social

Publicado em 12 de junho de 2025 às 17:33

Serra e Vila Velha estão entre as 11 cidades com o menor índice de qualidade de vida comparada a outras localidades maiores
Serra e Vila Velha estão entre as 11 cidades com o menor índice de qualidade de vida comparada a outras localidades maiores Crédito: Luciney Araújo

Serra e Vila Velha estão entre os 11 municípios brasileiros acima de 500 mil habitantes com o pior desempenho no Índice de Progresso Social (IPS) 2025. Os principais indicadores que puxaram as notas das cidades para baixo estão ligados à segurança pública e à assistência social.

No ranking das localidades com os piores desempenhos, Serra aparece na 10ª colocação, com uma nota de 64,53 pontos em uma escala que vai de 0 a 100. Vila Velha, por sua vez, está em 11º lugar, com 64,55 pontos.

No levantamento, o IPS fez recortes populacionais com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e separou os municípios com população acima de 500 mil habitantes em um grupo para fazer comparações de realidades mais próximas. Dessa forma, somente 48 localidades de todo o país entraram nessa classificação. No Espírito Santo, Serra e Vila Velha são os únicos com esse contingente populacional, segundo a coordenadora do estudo, Melissa Wilm.

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Serra e Vila Velha estão entre as 11 grandes cidades com menor qualidade de vida no país

“Serra, por exemplo, ficou na 10ª posição dos piores, não quer dizer que é o pior. É um recorte, de fato, pequeno. A gente fez essa análise para considerar mesmo outra métrica de avaliação. Serra, apesar de estar dentro desse grupo dos piores, ficou em sexto lugar no Espírito Santo entre os melhores. Quando a gente olha todos os municípios do Brasil, ficou na posição 587. Ou seja, tem quase 4.900 municípios atrás”, explicou.

Já Vila Velha aparece em 5º lugar entre os municípios com maior qualidade de vida no Estado. Os dados do IPS mostram que as cidades pontuam bem quando são comparadas a outras localidades capixabas, mas ficam abaixo quando comparadas a outras maiores, de diferentes regiões brasileiras.

A maioria das grandes cidades com o pior desempenho está no Rio de Janeiro. Há ainda municípios do Pará, Pernambuco, Bahia e Goiás.

O IPS vem de um entendimento de que desenvolvimento econômico não corresponde necessariamente a desenvolvimento social

Melissa Wilm

Coordenadora do IPS Brasil

Homicídios puxam índice da Serra para baixo

A coordenadora do IPS aponta que a Serra se destaca em áreas como saúde, oportunidades e o a programas de direitos humanos, à cultura, ao lazer e ao esporte. O estudo mostra segmentos que o município precisa ter mais atenção, como: assassinato de jovens e homicídios, distorção idade-série no ensino médio, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino fundamental, pessoas em situação de rua e paridade de gênero na Câmara Municipal.

Prefeitura da Serra afirma que os dados recentemente divulgados não refletem com fidelidade a realidade atual da cidade e que, embora a metodologia do IPS tenha valor analítico e ofereça uma referência útil para comparações entre municípios, há limitações. 

Em relação à segurança, alega que o município a por uma redução histórica de violência, tendo registrado somente três homicídios em março, com queda de 78,57% em relação ao mesmo mês do ano ado. Destaca também que, além do reforço no quadro de agentes, tem ampliado o sistema de videomonitoramento, aumentado o patrulhamento em áreas estratégicas e investido na integração com as Polícias Militar e Civil e outros órgãos. 

No indicador educação, diz haver melhoria contínua nos indicadores, demostrada em números, com o Ideb saindo de 3,8 em para 5,5 nos anos iniciais e de 3,4 para 4,5 nos anos finais, entre 2007 e 2023.

O município ainda afirma que tem ampliado os serviços de apoio voltados às mulheres em situação de violência. Um dos principais equipamentos oferecidos é o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Cramvis), que presta e psicossocial, orientação jurídica e encaminhamento para abrigos nos casos em que há risco de morte. Além disso, foram inauguradas duas unidades da Casa da Rosa, equipamento público que auxilia e qualifica mulheres para o mercado de trabalho. E, neste ano, ou a funcionar a Ouvidoria da Mulher, primeira do Estado especializada no atendimento feminino.

O município também ou a oferecer auxílio para transporte intermunicipal e interestadual, garantindo uma alternativa segura para que vítimas de violência de gênero possam deixar locais onde correm risco. As mulheres em situação de violência também estão incluídas entre os beneficiários do aluguel social, no valor de R$ 650. O benefício é pago diretamente ao proprietário do imóvel alugado.

Índice de Vila Velha é afetado por taxa de cobertura vacinal

Em Vila Velha, os indicadores estão atrelados à boa expectativa de vida, densidade de telefonia móvel, baixa taxa de obesidade, ações para direitos de minorias, o à cultura, ao lazer e ao esporte, empregados com ensino superior e nota mediana do Enem. Aparecem entre os pontos negativos: taxa de violência contra mulheres, alto índice de pessoas em situação de rua, respostas a processos familiares, assassinato de jovens, domicílios com iluminação elétrica adequada e cobertura vacinal (poliomielite).

Prefeitura de Vila Velha afirma que vem adotando medidas para a melhoria da cobertura vacinal, especialmente no que diz respeito à poliomielite. E informa ter aderido integralmente ao microplanejamento elaborado pelo Ministério da Saúde, como ferramenta estratégica para identificação de áreas com baixa cobertura vacinal e para a definição de ações direcionadas.

Sobre pessoas em situação de rua, destaca que realiza um trabalho intenso e diário de abordagem, por meio do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) em todas as localidades de Vila Velha com demanda. Em relação a políticas para mulheres, diz que conta com uma secretaria que tem o objetivo de desenvolver ações para prevenção e enfrentamento da violência, dando apoio às famílias em todos os seus aspectos.

O executivo municipal resalta, por fim, que está em fase de finalização o Termo de Cooperação Técnica com a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para ampliar o número de atendimentos jurídicos para mulheres vítimas de violência, que precisam solicitar pensão alimentícia, guarda dos filhos, divórcio, entre outras demandas.

Como os índices são medidos

Foi medido o desempenho social e ambiental de todos os municípios brasileiros com base em 57 indicadores oriundos de fontes públicas separados em três grupos principais:

  1. Necessidades humanas básicas: mostra se necessidades essenciais como comida, saúde, moradia e segurança estão sendo atendidas;
  2. Fundamentos do bem-estar: analisa se há o à educação fundamental, à informação, à vida saudável e ao meio ambiente; 
  3. Oportunidades: aponta se os direitos individuais estão protegidos e como está o o ao ensino superior.

Para calcular o índice de 2025, o levantamento cruzou esses indicadores com informações extraídas de diferentes fontes públicas como DataSUS, Ministério da Saúde, Ministério da Cidadania, Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, Inpe, CNJ, IBGE. MapBiomas, Anael, CadÚnico, entre outros.

Foram utilizados os indicadores mais recentes até 2024. Há dados, por exemplo, como o do Ideb, cuja última atualização é de 2023.

O IPS Brasil é atualizado anualmente para ser possível comparar o desempenho socioambiental dos municípios ao longo do tempo. Segundo a organização do levantamento, medir a situação social de municípios em uma frequência anual é essencial para captar mudanças e tendências e contribuir para o aperfeiçoamento de políticas públicas e a melhoria da gestão pública local.

Entre os Estados, o Espírito Santo ficou em 9º lugar, com índice de 62,24, e ultraou o Rio Grande do Sul. O resultado é melhor que o obtido em 2024, quando ficou na 10º posição, com 61,21. Na ponta da lista deste ano, estão Distrito Federal, seguido de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. 

Capital cai quatro posições no ranking

No levantamento das capitais, Vitória aparece na 16ª colocação, com índice de 64,65. O resultado é inferior ao obtido em 2024, quando obteve índice de 67,20 e ficou na 12ª colocação. Curitiba está na primeira colocação, seguida de Campo Grande, Brasília e São Paulo.

De acordo com o estudo, os pontos em vermelho de Vitória são: subnutrição, domicílios com iluminação elétrica adequada, assassinato de jovens, obesidade, famílias em situação de rua e violência contra mulheres.

A prefeitura da capital afirma que o IPS usa dados que não refletem os avanços e investimentos realizados nos últimos anos pelo município nas áreas de educação, saúde, segurança pública e desenvolvimento urbano. Diz ainda que está comprometida com a transparência, inovação e melhoria das políticas públicas, utilizando indicadores próprios para monitorar a gestão.

Na área da saúde, o município justifica que sedia o único hospital de urgência e emergência em traumas e casos complexos, recebendo pacientes de todos os outros municípios. Sendo assim, quando ocorre um óbito, o mesmo é computado em Vitória, mesmo que não tenha sido reflexo da violência na cidade.

O Executivo municipal ainda ressalta que os indicadores do IPS são baseados em dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) e, embora seja o sistema oficial para a vigilância do estado nutricional, existem evidências que apontam limitações importantes e disparidades em relação a pesquisas populacionais representativas.

No quesito segurança, a prefeitura afirma que tem dados expressivos de redução de casos de assassinatos em geral. Somente este ano, se comparado com os cinco primeiros meses de 2024, houve redução de 53% nos registros de mortes violentas. Pela primeira vez em 26 anos, Vitória apresentou um espaço de 70 dias sem homicídios, segundo dados abertos do Observatório de Segurança Pública.

Na área social, a gestão destaca que inaugurou um abrigo 24h para população em situação de rua, que funciona em sistema de hotelaria, com kit completo de higiene, cama, comida e roupa lavada, além de elaboração do plano individualizado de atendimento.

O município manifesta, por fim, que o IPS adota uma metodologia que compara municípios com base em faixas de PIB per capita semelhantes, desconsiderando variáveis determinantes como características econômicas, históricas, territoriais e sociais específicas de cada cidade. E que, além disso, parte dos indicadores utilizados no estudo se refere a políticas públicas cuja responsabilidade é da União ou dos Estados, como a taxa de evasão escolar no ensino médio.

Os resultados do IPS mostram uma desigualdade entre Estados e capitais. Enquanto os mais bem posicionados são do Centro-Sul do país, os que estão no fim dos rankings são das regiões Norte e Nordeste do país.

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