> >
Os 4 grupos que mais perderam com cortes drásticos de Milei na Argentina

Os 4 grupos que mais perderam com cortes drásticos de Milei na Argentina 2g3r3q

Os drásticos cortes orçamentários do governo Javier Milei reduziram a inflação e eliminaram o déficit fiscal da Argentina, mas causaram séria redução dos investimentos em ciência e saúde e queda do poder aquisitivo de aposentados e pensionistas. A BBC detalha os grupos mais prejudicados pelas medidas do governo. 3o4s2f

Veronica Smink 3z481c

Imagem de perfil de BBC News Brasil

BBC News Brasil 5eq2w

[email protected]

Publicado em 8 de junho de 2025 às 19:39

Imagem BBC Brasil
Os protestos contra os cortes orçamentários se multiplicaram na Argentina nos últimos meses Crédito: Getty Images

Desde que tomou posse, o presidente da Argentina, Javier Milei, vem repetindo que, para solucionar os problemas econômicos do país, sobretudo sua eterna inflação, o governo precisaria realizar "cortes drásticos" dos gastos públicos.>

O presidente libertário é o primeiro economista a liderar a segunda maior economia da América do Sul. Ele chegou a ilustrar sua intenção com uma ferramenta que deixava muito claro seu objetivo – e ficou famoso ao fazer sua campanha empunhando uma motosserra.>

Ao assumir o poder, Milei cumpriu sua promessa.>

O governo atual é o primeiro da história da Argentina a apresentar superávit fiscal desde o princípio. Ou seja, desde janeiro de 2024, o país arrecada mais do que gasta.>

>

A ampla maioria dos economistas concorda que o saneamento das contas púbicas foi fundamental para que a inflação caísse de mais de 210% ao ano, no final de 2023, para 47,3% anuais, que é o último número oficial, anunciado em maio deste ano. E muitos esperam que este número continue baixando.>

Para este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que acaba de emprestar à Argentina mais US$ 20 bilhões (cerca de R$ 112,9 bilhões), em reconhecimento ao governo de Milei – prevê que a inflação caia para 35,9%.>

O FMI também projeta que, em 2025, o país terá o maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina. A expansão prevista é de 5,5%, que representa mais que o dobro da média da região, de 2%.>

Mas os argentinos estão pagando um custo enorme por esta correção econômica. Funcionários públicos perderam seu trabalho com a redução do quadro estatal em cerca de 10%, segundo o governo. E professores não conseguem continuar lecionando nas universidades estatais, devido aos baixos salários.>

Isso sem falar no grave estado de muitas estradas e em outros tipos de infraestrutura afetados pela eliminação quase total dos gastos em obras públicas.>

Mas existem outros setores prejudicados que protagonizaram grandes manifestações contra o governo argentino. Eles organizaram um protesto conjunto, em frente ao Congresso, na última quarta-feira (4/6).>

Quais são estes setores? E por que eles contam com um apoio popular cada vez maior?>

Imagem BBC Brasil
O maior símbolo da crise sanitária da Argentina é a situação do hospital pediátrico Garrahan, o maior do país Crédito: Getty Images

1. Médicos 431cn

Poucos anos atrás, eles eram os "heróis da pandemia". Hoje, o setor de saúde pública da Argentina enfrenta um dos piores momentos da sua história.>

O maior símbolo da crise é a situação do principal hospital pediátrico do país, o Hospital Garrahan, em Buenos Aires. Financiado pelo Estado, ele oferece cerca de 600 mil consultas e realiza cerca de 10 mil cirurgias todos os anos.>

Crianças de todas as partes do país vêm se tratar neste que é o centro especializado em assistência infantil de maior prestígio do país.>

Os funcionários do hospital convocaram uma eata na semana ada e outra na segunda-feira (2/6). Eles denunciam que o governo está "desfinanciando" a instituição.>

Os médicos residentes do Hospital Garrahan lideram os protestos. Eles entraram em greve, afirmando que seus salários (menos de US$ 700, ou cerca de R$ 3.950) estão abaixo da linha da pobreza.>

Representantes dos cerca de 1,8 mil residentes também afirmaram que, desde a posse de Milei, dezenas de médicos se demitiram para trabalhar em hospitais particulares.>

O governo ofereceu um aumento salarial de cerca de US$ 400 (cerca de R$ 2.260) aos médicos residentes, embora ainda não tenha oficializado a proposta. O governo argentino também afirmou que o hospital mantém o dobro de funcionários istrativos, em relação ao número de médicos.>

Mas o site de verificação Chequeado refutou esta informação. Citando dados do Departamento de Estatísticas do Hospital Garrahan, o portal demonstrou que quase 70% dos funcionários da instituição trabalham na assistência aos pacientes.>

O Centro de Dados do Chequeado afirma que, "durante o primeiro ano de gestão do governo de Javier Milei, as transferências de dinheiro do Estado para o Hospital Garrahan aumentaram em cerca de 10%, em termos reais (ou seja, considerando a inflação), em relação a 2023.">

"Mas, como o orçamento nacional de 2025 foi prorrogado, os fundos para este ano são os mesmos de 2024.">

Na prática, com o aumento dos custos causado pela inflação, isso equivale "a uma queda de 30%, em termos reais, sobre o ano anterior".>

Os protestos dos trabalhadores do Hospital Garrahan são os que contam com o maior apoio da população. Eles geraram incontáveis demonstrações de apoio e uma petição na plataforma Change.org que superou 240 mil s em poucos dias.>

Mas esta é uma dentre várias instituições de saúde pública que estão em crise atualmente na Argentina.>

Imagem BBC Brasil
Milei ordenou auditorias em massa, que levaram à suspensão de milhares de aposentadorias por incapacidade Crédito: Getty Images

2. Pessoas com deficiência 483m6e

Outro setor que conta com enorme simpatia popular é o das famílias que possuem pessoas com algum tipo de deficiência. Elas também levaram às ruas suas reclamações contra o governo.>

Quando assumiu o poder, Milei ordenou auditorias em massa, que levaram à suspensão de milhares de aposentadorias por incapacidade.>

Segundo o governo, trata-se de pessoas saudáveis que cometiam fraudes. Foram mencionados como exemplos os casos de algumas cidades em que um grande percentual da população recebia aposentadorias por incapacidade para o trabalho.>

Mas as famílias defendem que o governo usa esta desculpa para reduzir o financiamento da Agência Nacional para Pessoas com Deficiência (Andis, na sigla em espanhol).>

Elas também denunciam o congelamento dos valores pagos aos profissionais que cuidam de pessoas com deficiência. Seus ganhos não são atualizados desde novembro de 2024, apesar da inflação de mais de 2% ao mês.>

Na última quinta-feira de maio (29/5), familiares e prestadores de serviços se associaram aos funcionários do Hospital Garrahan para protestar em frente ao Congresso argentino. Os protestos prosseguiram na quarta-feira seguinte (4/6), ao lado de outros setores críticos ao governo.>

Houve também mobilizações nas províncias, buscando pressionar os parlamentares a declarar emergência nacional no setor.>

Esta medida estabeleceria um mecanismo de ajuste mensal, para que os prestadores de serviços recebam pagamentos adequados, e garantiria o o a aposentadorias por incapacidade, sem necessidade de contribuição anterior. >

Mas o governo já adiantou que irá vetar este projeto, se for aprovado pelo Congresso.>

Milei foi criticado não só pelos cortes nesta área, mas também pela sua falta de empatia e seus comentários discriminatórios contra pessoas com deficiência. Ele chegou a usar a palavra "inválido" para desqualificar militantes de esquerda.>

"À retirada de financiamento, soma-se a crueldade. Existe um enfurecimento", denunciou a atriz Valentina Bassi, mãe de uma criança com autismo, à rádio El Destape, de Buenos Aires.>

Imagem BBC Brasil
Os cientistas argentinos alertam que o governo vem cometendo um "cientificídio", devido à falta de investimentos no setor Crédito: Getty Images

3. Cientistas 454j25

Outra área muito atingida pelos cortes dos gastos públicos na Argentina é a ciência.>

Nos últimos anos, governos de centro-esquerda (kirchneristas) e de centro-direita (macristas) priorizaram os investimentos neste setor. A Argentina se orgulha de ter produzido cinco prêmios Nobel, mais do que qualquer outro país da região.>

Mas a prestigiada ciência argentina foi um dos primeiros setores a sofrer o ataque da afiada motosserra de Milei.>

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação foi um dos organismos que ficaram de fora do novo organograma estatal do presidente libertário. Ele reduziu os cargos pela metade.>

Esta decisão chegou a levar 68 vencedores do prêmio Nobel a expressar sua "preocupação" com a "dramática desvalorização da ciência argentina". Agora, os cientistas do país alertam que o governo comete um "cientificídio", com a falta de investimentos.>

No último dia 28 de maio, organizações de cientistas se vestiram de "eternautas", em referência ao herói dos quadrinhos argentino que protagoniza uma das séries mais famosas da Netflix.>

Eles se mobilizaram em todo o país para denunciar a perda de mais de 4 mil postos de trabalho no setor, segundo dados oficiais analisados pelo centro de estudos Economia Política Ciência (EPC).>

Um terço destes cargos pertencia ao renomado Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet). O número de pesquisadores da instituição foi reduzido pela primeira vez em 17 anos.>

"Entre dezembro de 2023 e abril de 2025, frente a uma inflação acumulada de 204,9%, os salários dos pesquisadores do Conicet caíram em 34,7%, em termos reais", segundo a Rede de Autoridades de Institutos de Ciência e Tecnologia (Raicyt, na sigla em espanhol).>

Imagem BBC Brasil
Os aposentados vêm protestando contra os cortes orçamentários há meses Crédito: Getty Images

4. Aposentados f6bw

Os idosos formam um dos grupos mais prejudicados pelas políticas de Javier Milei.>

O sistema de previdência social representa o maior gasto do Estado argentino. E também foi quem prestou a maior colaboração a esta inédita redução de quase um terço do orçamento nacional, que eliminou o déficit fiscal da Argentina.>

Um relatório recentemente publicado pelo Centro de Economia e Política Argentina (Cepa) indica que a perda do poder aquisitivo das aposentadorias e pensões representa 19,2% do ajuste dos gastos estatais em 2024.>

O governo do país conseguiu este ajuste "diluindo" as aposentadorias no primeiro trimestre (ou seja, aumentando seu valor abaixo da inflação) e mantendo congelado até hoje o bônus extraordinário recebido pela maioria dos aposentados desde o governo do ex-presidente Alberto Fernández (2019-2023).>

Este bônus foi criado como solução paliativa para a perda de poder aquisitivo pelos aposentados.>

Com o congelamento, o bônus perdeu grande parte do seu poder de compra. Mas as perdas dos aposentados não se restringem à sua receita.>

O governo também diminuiu a quantidade de medicamentos gratuitos oferecidos pela assistência social estatal aos aposentados e pensionistas. Esta medida atingiu ainda mais os bolsos dos idosos, que gastam uma parte considerável dos seus recursos com a manutenção da saúde.>

Por tudo isso, os aposentados realizam protestos em frente ao Congresso argentino todas as quartas-feiras. Estas manifestações costumam contar com o apoio de outros grupos críticos ao governo.>

Em muitas ocasiões, os protestos terminaram em repressão por parte da polícia, que aplica o "protocolo de segurança" criado pelo governo. As novas normas proíbem o bloqueio das ruas, que era uma forma habitual de protesto no ado.>

A eata da quarta-feira (4/6) buscou pressionar os legisladores para aprovar um aumento das aposentadorias e a prorrogação da chamada "moratória previdenciária" – um sistema criado há duas décadas pelo kirchnerismo, que permitiu que milhões de idosos, principalmente donas de casa, se aposentassem, mesmo sem terem realizado colaborações anteriores.>

A última moratória venceu em março do ano ado.>

Em 2024, o governo vetou uma lei sancionada pelo Parlamento, que pretendia aumentar o valor mínimo das aposentadorias, ressaltando que qualquer aumento colocaria em xeque seu objetivo de "déficit zero".>

"O sistema estabelece hoje que existe um [trabalhador] ativo e meio para cada aposentado, o que, obviamente, não se pode pagar", declarou o chefe de Gabinete do governo, Guillermo Francos, à rádio Rivadavia, de Buenos Aires.>

"Por mais que pretendam fixar um aumento dos valores, se não houver recursos, não será possível aprovar, de nenhuma forma.">

Este vídeo pode te interessar 3m3n4z

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais